Cantiga com provérbio:
Quisque se coita há, costas lhe dá
  (linha 16)

Airas Nunes


Falei noutro dia com mia senhor
e dixe-lh'o mui grand'amor que lh'hei
 e quantas coitas por ela levei
e quant'afã sofro por seu amor.
5Foi sanhuda e nunc'a tanto vi:
 e foi-se e sol nom quis catar por mi,
e nunca mais pois com ela falei.
  
 Mentr'eu com ela falava em al,
eu nunca molher tam bem vi falar;
10e pois lh'eu dixe a coita e o pesar
que por ela sofro e o mui gram mal,
foi sanhuda e catou-me em desdém;
 e des ali nom lh'ousei dizer rem,
 nem ar quis nunca pois por mi catar.
  
15E muitas vezes eu dizer:
 "quisque[m] se coita há, costas lhe dá";
  e eu receei esto grand'er'há;
mais porque me vejo em coitas viver
dixe-lh'o bem que lhe quer'e entom
 20[e]stranhou-mi-o de guisa que sol nom
me quis falar; e de mi que será?



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Nota geral:

Tendo confessado o seu amor à sua senhora, esta reagiu mal e virou-lhe as costas. Desde então o trovador nunca mais lhe conseguiu falar, até porque ela evita olhar para ele. Nada que o trovador não receasse - segundo um (antigo) provérbio, que cita na última estrofe, as pessoas preferem afastar-se de quem as importuna com mágoas.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
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Fontes manuscritas

B 884, V 467

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 884

Cancioneiro da Vaticana - V 467


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas