Airas Nunes


hoj'eu ũa pastor cantar
 u cavalgava per ũa ribeira,
e a pastor estava senlheira
e ascondi-me pola ascuitar;
5e dizia mui bem este cantar:
"Sô lo ramo verd'e frolido
vodas fazem a meu amigo,
e choram olhos d'amor".
  
E a pastor parecia mui bem,
10e chorava e estava cantando,
e eu mui passo fui-mi achegando
pola oír e sol nom falei rem;
e dizia este cantar mui bem:
"Ai estorninho do avelanedo,
15cantades vós e moir'eu e pen'
e d'amores hei mal".
  
E eu oí-a sospirar entom,
e queixava-se estando com amores,
e fazi'[ũ]a guirlanda de flores,
 20des i chorava mui de coraçom
e dizia este cantar entom:
 "Que coita hei tam grande de sofrer:
amar amig'e non'ousar veer!
E pousarei sô lo avelanal".
  
25Pois que a guirlanda fez a pastor,
foi-se cantando, indo s'en manselinho,
e tornei-m'eu logo a meu caminho,
ca de a nojar nom houve sabor;
e dizia este cantar bem a pastor:
30"Pela ribeira do rio
cantando ia la virgo
d'amor:
«quem amores há
como dormirá,
35ai bela frol?»".



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Nota geral:

Como em várias outras das suas composições, também nesta pastorela Airas Nunes retoma, no final de cada estrofe, refrães de quatro cantigas de amigo de outros autores. Indicamos, em nota, aquelas que tem sido possível identificar.
De qualquer forma, este facto confundiu certamente o copista de B, que colocou iniciais de princípio de cantiga no segundo refrão e no terceiro, e igualmente Colocci, que lhes atribuiu numeração independente.



Nota geral


Descrição

Pastorela
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 868/869/870, V 454
(C 868)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 868/869/870

Cancioneiro da Vaticana - V 454


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas