João Mendes de Briteiros


Vistes tal cousa, senhor, que mi avém
cada que venho convosco falar?
Sol que vos vejo, log'hei a cegar,
que sol nom vej'; e que vos venha bem,
5       pois mi assi cega vosso parecer,
       se ceg'assi quantos vos vam veer?
  
Ceg'eu de pram daquestes olhos meus,
que rem nom vejo, par Deus, mia senhor;
atant'hei já, de vos veer, sabor
10que sol nom vej'; e que vos valha Deus,
       pois mi assi cega vosso parecer,
       se ceg'assi quantos vos vam veer?
  
Vosso parecer faz a mim entom,
senhor, cegar, tanto que venh'aqui
15por vos veer e log'eu ceg'assi
que sol [nom] vej'; e que Deus vos perdom,
       pois mi assi cega vosso parecer,
       se ceg'assi quantos vos vam veer?
  
E pois eu cego, Deus, que há poder,
20[que ceg'assi] quantos vos vam veer!



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Nota geral:

Dirigindo-se à sua senhora, o trovador dá-lhe conta da estranha coisa que lhe acontece: cada vez que vai falar com ela, fica cego e deixa de ver. E pergunta-lhe se acontece o mesmo com todos os outros. Uma pergunta retórica, já que, na finda, é isso mesmo que ele pede a Deus: que os cegue quando a forem ver, tal como faz com ele.
Nos manuscritos, esta cantiga não surge integrada no grupo de cantigas de amor do trovador, mas é transcrita depois das suas cantigas de amigo (encerrando as composições deste autor). Desconhecemos o motivo para este "deslocamento".



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 867, V 453

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 867

Cancioneiro da Vaticana - V 453


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas