João Mendes de Briteiros


Que pret'esteve de me fazer bem
Nostro Senhor, e nom mi o quis fazer,
quand'entendeu que podera morrer
por vós, senhor! Que logo nom morri!
5Matando-m'El fezera-me bem i,
tal que tevera que m'era gram bem.
  
Ante me quis leixar perder o sem
 por vós, senhor; des i soub'alongar
meu bem, que era em mi a morte dar,
10e quis que já sempre eu vivess'assi,
em gram coita como sempre vivi,
e que m'houvesse perdudo meu sem.
  
E vej'eu que mal coraçom me tem
Nostro Senhor, assi El me perdom:
15nom me deu morte, que de coraçom
Lhe roguei sempr'e muito Lha pedi,
mais deu-me vida, a pesar de mim,
desejando a que m'em pouco tem.
  
Atal ventura quis El dar a mim:
20fez-me veer-vos e ar fez log'i
a vós que nom déssedes por mi rem.



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Nota geral:

O trovador diz à sua senhora que Nosso Senhor, estando perto de lhe conceder uma graça - consentir que morresse -, não o quis fazer, coisa que ele muito lamenta. Permitindo-lhe que viva, e que enlouqueça por ela, Ele só mostra a má vontade que lhe tem.
Não é impossível que João Mendes tenha composto esta cantiga depois de um qualquer episódio biográfico em que tivesse corrido risco de vida (por doença ou ferimento de guerra, por exemplo).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas (rima b singular)
Dobre: (v. 1 e 6 de cada estrofe)
bem (I), sem (II), tem (III)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 862, V 448

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 862

Cancioneiro da Vaticana - V 448


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas