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  (linha 11)

Paio Gomes Charinho


A dona que home "senhor" devia      ←
 com dereito chamar, per boa fé,      ←
meus amigos, direi-vos eu qual é:      ←
ũa dona que eu vi noutro dia,      ←
  5e nom lh'ousei mais daquesto dizer;      ←
mais quen'a viss'e podess'entender      ←
todo seu bem, "senhor" a chamaria.      ←
  
Ca senhor é de muito bem; e vi-a      ←
eu por meu mal, sei-o, per boa fé;      ←
10e de morrer por en gram dereit'é,      ←
ca bem soub'eu quanto m'end'averria:      ←
morrer assi com'eu moir'e perder,      ←
meus amigos, o corp', e nom poder      ←
veer ela quand'eu veer querria.      ←
  
 15E tod'aquesto m'ant'eu entendia      ←
que a visse; mais tant' falar      ←
no seu bem, que me nom soube guardar;      ←
nem cuidava que tam bem parecia      ←
que log'eu fosse por ela morrer;      ←
20mais, u eu vi o seu bom parecer,      ←
vi, amigos, que mia morte seria.      ←
  
É por esto que bem conselharia      ←
quantos oírem no seu bem falar:      ←
non'a vejam e podem-se guardar      ←
25melhor ca m'end'eu guardei; que morria      ←
e dixe mal: mais fez-me Deus haver      ←
tal ventura, quando a fui veer,      ←
que nunca dix'o que dizer querria.      ←



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Nota geral:

O trovador, partindo da implícita noção do que será uma verdadeira senhora, diz-nos que o termo só se deveria aplicar, com inteira justiça, a uma dona que conheceu recentemente e perante a qual ficou sem palavras, limitando-se ao vocativo senhora. Por seu mal a conheceu, já que, mesmo antes disso, pressentia, pelo bem que ouvia dizer dela, que o seu destino seria funesto. E agora sofre por não a ver tanto como gostaria e sente-se morrer - o que é justo, visto não ter sabido fugir a tempo. Na última estrofe, ele aconselha, pois, todos os que ouvirem falar dela e das suas qualidades a fugirem de a conhecer, evitando assim a sua triste sorte: não lhe ousar sequer dizer o que sente.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas (rima b dobla)
Palavra(s)-rima: (v. 2 de cada estrofe)
per boa fé (I, II), falar (III, IV);
(v. 3 de cada estrofe)
é (I, II), guardar (III, IV)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 246, B 811, V 395

Cancioneiro da Ajuda - A 246

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 811

Cancioneiro da Vaticana - V 395


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas