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João Soares Somesso


De quant'eu sempre desejei      ←
 de mia senhor, nom end'hei rem;      ←
e o que muito receei      ←
de mi aviir, todo mi avém:      ←
 5ca sempr'eu desejei mais d'al      ←
 de viver com ela e, mal      ←
que me pês, a partir-m'hei en.      ←
  
E já que m'end'a partir hei,      ←
esto pod'ela veer bem:      ←
10que muita guerra lhe farei,       ←
porque me faz partir daquém,      ←
ond'eu sõo mui natural;      ←
e sei-lh'eu um seu home atal      ←
que lh'haverá a morrer por en.      ←
  
15E non'o pode defender      ←
de morte, se mi mal fezer      ←
- ca ũa morte hei eu d'haver;      ←
e pois eu a morrer houver,       ←
todavia penhor querrei      ←
20filhar por mi: e tolher-lh'-ei      ←
est'home, por que me mal quer.      ←
  
E pois lh'eu est'home tolher,      ←
faça-m'ela mal, se poder      ←
- e non'o poderá fazer;      ←
25mais pod'entender, se quiser,      ←
que log'eu guardado serei      ←
dela, e non'a temerei,      ←
 des que lh'eu esto feit'houver.      ←



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Nota geral:

O trovador começa por dizer que os seus desejos se goraram e o que sempre receou vai acontecer: porque sempre desejou viver perto da sua senhora, e agora tem de partir. Logo na 2ª estrofe, no entanto (e até ao final da composição), ele inicia uma argumentação pelo menos imaginativa, porque assente no equívoco: anunciando que lhe irá fazer guerra, pois o obriga a partir da terra que é sua, diz-lhe que conhece um seu vassalo que irá morrer por isso mesmo. E, como prossegue na 3ª estrofe, ela não o poderá defender; porque, mesmo se ele próprio morrer na luta, levará consigo esse homem, como penhor (note-se que todo o equívoco parte das regras e do vocabulário feudal). Finalmente, na última estrofe, ele acrescenta que, morto esse seu homem, ela jamais lhe poderá fazer mal, já que ficará fora do seu alcance e sem qualquer medo dela.
Como se compreende, o trovador serve-se aqui de uma espécie de desdobramento de personalidade, já que o tal homem ou vassalo é ele próprio. Mas o equívoco é suficientemente original para justificar o divertido comentário de um leitor de meados do século XV, escrito na margem do Cancioneiro da Ajuda (nota M, ao último verso): ora pois faze-lho.
O trovador retoma esta mesma razom numa cantiga seguinte.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 15, B 108

Cancioneiro da Ajuda - A 15

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 108


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas