João Vasques de Talaveira


Vistes vós, amiga, meu amigo,
que jurava que sempre fezesse
todo por mi quanto lh'eu dissesse?
Foi-se daqui e nom falou migo;
5       e, pero lh'eu dixi, quando s'ia,
        que sol nom se fosse, foi sa via.
  
 E per u foi, irá perjurado,
amiga, de quant'el a mim disse,
ca mi jurou que se nom partisse
10daqui, e foi-se sem meu mandado;
       e, pero lh'eu dixi, quando s'ia,
       que sol nom se fosse, foi sa via.
  
E nom poss'eu estar que nom diga
o [mui] gram torto que m'el há feito,
 15ca, pero mi fezera gram preito,
foi-se daqui sem meu grad', amiga;
       e, pero lh'eu dixi, quando s'ia,
       que sol nom se fosse, foi sa via.
  
E, se m'el mui gram torto fazia,
20julgue-me com el Santa Maria.



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Nota geral:

A donzela comenta com uma amiga: o seu amigo, que jurava fazer tudo o que ela lhe dissesse, foi-se embora sem a avisar, assim contrariando o que ela expressamente lhe tinha pedido. É pois um mentiroso e um traidor, coisa que a donzela não pode deixar de divulgar publicamente. Da ofensa que ele lhe fez pode testemunhar Santa Maria.
A composição deve relacionar-se com a cantiga que os manuscritos transcrevem imediatamente antes e que alude ao regresso do amigo (ou seja, a ordem em que surgem nos manuscritos parece trocada).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 793, V 377

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 793

Cancioneiro da Vaticana - V 377


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas