João Garcia de Guilhade


Veestes-me, amigas, rogar
que fale com meu amigo
e que o avenha migo;
mais quero-m'eu dele quitar:
 5ca, se com el algũa rem falar,
       quant'eu falar com cabeça de cam,
       logo o todas saberám.
  
Cabeça de cam perdudo
é, pois nom há lealdad'e
10com outra fala, En Guilhade
é traedor conhoçudo;
e por est', amiga[s], é s[a]budo:
       quant'eu falar com cabeça de cam,
       logo o todas saberám.
  
15E, se lh'eu mias dõas desse,
amigas, como soía,
a toda[s] lo el diria,
e al quanto lh'eu dissesse,
e fala, se a com el fezesse:
20       quant'eu falar com cabeça de cam,
       logo o todas saberám.



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Nota geral:

Possivelmente na sequência da zanga entre a donzela e o seu amigo, aludida nesta cantiga, e do pedido das amigas para ela ser clemente com ele, a donzela justifica-se: não o faz porque ele é um fala barato, e tudo, absolutamente tudo quanto ela lhe diz (ou dá) em privado passa imediatamente a ser conhecido por todas as outras. Traidor e cabeça de cão, é o que ele é! (embora, numa outra cantiga, ela lhe perdoe)
Esta nova cantiga de amigo auto-referencial (de um grupo mais vasto, aqui indicado) parece sê-lo duplamente: de facto, as queixas da donzela fornecem a matéria para todos estes irónicos e inteligentes cantares (que o seu amigo, João de Guilhade, faz, tal como fez este).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 787, V 371

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 787

Cancioneiro da Vaticana - V 371


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas