João Garcia de Guilhade


Ai amigas, perdud'ham conhocer
quantos trobadores no reino som
 de Portugal: já nom ham coraçom
de dizer bem que soíam dizer
5[de nós], e sol nom falam em amor,
 e al fazem, de que m'ar é peor:
nom querem já loar bom parecer.
  
Eles, amigas, perderom sabor
de nos veerem; ar direi-vos al:
10os trobadores já vam pera mal;
nom há i tal que já sérvia senhor,
nem sol [que] trobe por ũa molher;
maldita sej'a que nunca disser
a quem nom troba que é trobador!
  
15Mais, amigas, conselho há d'haver
 dona que prez e parecer amar:
atender temp[o] e nom se queixar
  e leixar já avol tempo perder;
ca bem cuid'eu que cedo verrá alguém
20que se paga da que parece bem
e veeredes ced'amor valer.
  
E os que já desemparados som
de nos servir, sabud'é quaes som:
leixe-os Deus maa morte prender!



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Nota geral:

Cantiga de amigo em forma de lamento pelo abandono a que são votadas as artes do amor e da poesia em Portugal - onde, como nos diz esta voz feminina, os trovadores parecem ter renunciado ao elogio das mulheres e da beleza.
Não sabemos exatamente quando e em que circunstâncias teria João Garcia de Guilhade composto esta cantiga, mas a referência final a uma mudança iminente deste estado de coisas, possibilitada pelo surgimento de "alguém" para quem a beleza não é indiferente, leva-nos a pensar que a cantiga teria sido composta na juventude de D. Dinis, a quem Guilhade prestaria, desta forma, uma homenagem indireta e precoce. Seja como for, o certo é que a forma "cantiga de amigo" desempenha aqui um papel bem diferente do habitual.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 786, V 370

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 786

Cancioneiro da Vaticana - V 370


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas