Cantiga referida em nota


João Garcia de Guilhade


Fez meu amigo gram pesar a mi,
e, pero m'el fez tamanho pesar,
fezestes-me-lh', amigas, perdoar,
e chegou hoj'e dixi-lh'eu assi:
5       "Viinde já, ca já vos perdoei,
       mais pero nunca vos já bem querrei".
  
Perdoei-lh'eu, mais nom já com sabor
que [eu] houvesse de lhi bem fazer,
e el quis hoj'os seus olhos m'erger
10e dixi-lh'eu: "Olhos de traedor,
       viinde já, ca já vos perdoei,
       mais pero nunca vos já bem querrei".
  
 Este perdom foi de guisa, de pram,
que jamais nunca mig'houvess'amor,
15e nom ousava viir com pavor,
e dixi-lh'eu: "Ai cabeça de cam!,
       viinde já, ca já vos perdoei,
       mais pero nunca vos já bem querrei".
  



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Nota geral:

Pressionada pelas suas amigas, a donzela diz ter perdoado ao seu amigo um anterior desgosto que ele lhe deu. Mas foi um perdão de amizade e que não implica que volte a gostar dele. A originalidade desta cantiga reside, no entanto, em grande parte, no discurso direto que o trovador nela introduz, dando conta das palavras que a donzela teria dito ao seu amigo: plenas de terna e popular ironia (como a de tratá-lo por "cabeça de cão"), elas desmentem, ao mesmo tempo, a repetida afirmação (em refrão) de que nunca mais gostará dele.
Acrescente-se que esta cantiga, embora anterior nos manuscritos, parece vir na sequência de duas outras cantigas de amigo transcritas um pouco mais adiante, e onde vemos as amigas, primeiro comentar uma zanga entre a donzela e o seu amigo, e em seguida pedir à donzela que seja clemente com ele (nesta última também chamado de "cabeça de cão")



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 777, V 360

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 777

Cancioneiro da Vaticana - V 360


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas