João Garcia de Guilhade


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Cada que vem o meu amig'aqui
diz-m', ai amigas, que perd'o [seu] sem
por mi, e diz que morre por meu bem,
mais eu bem cuido que nom est assi:
 5       ca nunca lh'eu vejo morte prender
        nen'o ar vejo nunca ensandecer.
  
El chora muito e filha-s'a jurar
 que é sandeu e quer-me fazer fiz
que por mi morr', e pois morrer nom quis,
10mui bem sei eu que há ele vagar;
       ca nunca lh'eu vejo morte prender
       nen'o ar vejo nunca ensandecer.
  
Ora vejamos o que nos dirá
pois veer viv'e pois sandeu nom for;
15ar direi-lh'eu: "Nom morrestes d'amor?"
Mais bem se quite de meu preito já:
       ca nunca lh'eu vejo morte prender
       nen'o ar vejo nunca ensandecer.
  
E jamais nunca mi fará creer
20que por mi morre, ergo se morrer.



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Nota geral:

Cantiga de amigo na qual João Garcia de Guilhade faz um brilhante jogo auto-irónico, ao colocar na boca da amiga a crítica ao cliché da "morte de amor" que ele e os outros trovadores tanto juram nas cantigas de amor. Neste caso, a cantiga concreta aqui referida talvez possa ser A bõa dona por que eu trobava, conhecida composição onde a voz masculina de Guilhade diz tudo o que a donzela aqui refere.
Assim, esta original cantiga de amigo, sem deixar de o ser, desenvolve uma razom, (um tema central) em tudo semelhante à que podemos encontrar, por exemplo, na conhecida cantiga satírica de Pero Garcia Burgalês Roi Queimado morreu com amor. Várias outras cantigas de amigo de João Garcia de Guilhade se processam neste registo semi-paródico.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 754, V 357

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 754

Cancioneiro da Vaticana - V 357


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas