Nota geral: Cantiga que tem como tema o casamento de D. Urraca Abril, filha do poderoso rico-homem D. Abril Peres de Lumiares, com João Martins de Riba de Vizela, dito o Chora, casamente esse que, pelo que percebemos, se terá realizado contra a vontade da noiva. Para além da componente pessoal, a cantiga tem seguramente uma componente política, como o próprio casamento a tinha. Composta provavelmente nos finais dos anos trinta do século XIII, anos de tensão que precederam a guerra civil que depôs D. Sancho II (1245-1248), a composição deverá ser entendida nesse contexto. De facto, tanto o pai da noiva, D. Abril Peres, como o noivo, D. João Martins Chora, foram partidários do conde de Bolonha (futuro Afonso III), enquanto que a outra personagem que aparece na cantiga a lamentar a desdita da noiva, D. Martim Gil de Soverosa, foi um dos mais fiéis partidários de D. Sancho II, como seu valido e privado (tal como, de resto, o irmão de D. João Martins, D. Gil Martins de Riba de Vizela). Não sabemos, aliás, qual é o papel de D. Martim Gil na trama político-sentimental aludida na cantiga, mas pode aceitar-se a sugestão de Carolina Michaelis1 de que ele seria um pretendente rejeitado. Acrescente-se que D. Abril Peres de Lumiares acabou, aliás, por morrer às suas mãos na lide de Gaia, o recontro armado que, em 1245, deu início à guerra civil.
Referências 1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904), p. 298.
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