João Garcia de Guilhade


Por Deus, amigas, que será,
pois [j]á o mundo nom é rem,
nem quer amig'a senhor bem?
E este mundo que é já?
5Pois i amor nom há poder,
que presta seu bom parecer,
nem seu bom talh'a quen'o há?
  
Vedes por que o dig'assi:
porque nom há no mundo rei
10que viss'o talho que eu hei
que xe nom morresse por mim;
 siquer meus olhos verdes som,
e meu amig'agora nom
me viu, e passou per aqui.
  
15Mais dona que amig'houver
des hoje mais (crea per Deus)
nom s'esforç'enos olhos seus,
ca des oimais nom lh'é mester:
ca já meus olhos viu alguém
20e meu bom talh', e ora vem
e vai-se tanto que s'ir quer.
  
E, pois que nom há de valer
bom talho nem bom parecer,
parescamos já como quer.



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Nota geral:

Este mundo está perdido, diz a donzela às amigas: pois onde estão os homens apaixonados e que saibam apreciar a elegância e a beleza das donzelas? E se ela diz isto, explica, é porque pensa que, bem-feita como é e de olhos verdes, nem mesmo um rei lhe ficaria indiferente - e, no entanto, o seu amigo passou por ali e nem se dignou a ir vê-la, indo e vindo sem lhe prestar atenção. De modo que, a partir desse momento, não vale a pena a nenhuma mulher esforçar-se por ter olhos bonitos ou por arranjar-se bem. Se a beleza e a elegância deixaram de contar, o melhor mesmo é andarem de qualquer maneira.
Note-se que o trovador, na voz masculina de uma das suas cantigas de amor, alude igualmente a estes olhos verdes.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 742, V 344

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 742

Cancioneiro da Vaticana - V 344


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas