Vasco Gil


Quando se foi noutro dia daqui
o meu amigo, roguei-lh'eu, por Deus,
chorando muito destes olhos meus,
que nom tardass'e disse-m'el assi:
5       que nunca Deus lhi desse de mi bem
       se nom veesse mui ced', e nom vem.
  
Quando se foi noutro dia, que nom
pud'al fazer, dixi-lh'eu, se tardar
quisesse muito, que nunca falar
10podia mig', e disse-m'el entom:
       que nunca Deus lhi desse de mi bem
       se nom veesse mui ced', e nom vem.
  
Nom sei que x'est ou que pode seer
por que nom vem, pois que lho eu roguei,
15ca el mi disse como vos direi
e sol nom meteu i de nom poder,
       que nunca Deus lhi desse de mi bem
       se nom veesse mui ced', e nom vem.
  
Nom sei que diga, tanto m'é gram mal
20do meu amigo, de como morreu,
 ca mi diss'el, u se de mi quitou,
e nom sacou ende morte nem al,
       que nunca Deus lhi desse de mi bem
       se nom veesse mui ced', e nom vem.



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Nota geral:

A moça aflige-se porque, dias antes, quando se foi embora, o seu amigo lhe jurou, perante os seus rogos e lágrimas, que voltaria muito em breve, e agora não vem. Nessa despedida, ela até lhe tinha dito que não voltaria a falar com ele, se se demorasse, de modo que não compreende o que se passa, pois ele garantiu-lhe taxativamente que viria, sem mesmo mencionar um eventual impedimento ou mesmo a morte. E o mais certo, pois, é ter mesmo morrido.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Refrão
Cobras singulares
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Fontes manuscritas

B 665, V 267

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 665

Cancioneiro da Vaticana - V 267


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas