Estêvão da Guarda


 Ora, senhor, tenho muit'aguisado
de sofrer coita grand'e gram desejo,
 pois d'u vós fordes eu for alongado
e vos nom vir, como vos ora vejo;
 5e, mia senhor, éste gram mal sobejo
meu e meu gram quebranto:
seer eu de vós, por vos servir quanto
posso, mui desamado.
  
Desej'e coita e [mui] gram soidade
10convém, senhor, de sofrer todavia,
pois, d'u vós fordes i, a gram beldade
voss'eu nom vir, que vi em grave dia;
e, mia senhor, em gram bem vos terria
de me darde'la morte
15ca de viver eu em coita tam forte
e em tal estraĩdade.
  
Nom fez Deus par a desejo tam grande,
nem a qual coita sof'rei , des u me
partir de vós; ca, per u quer que ande,
 20nom quedarei ar, meu bem e meu lume,
de chorar sempre e com mui gram queixume
maldirei mia ventura:
ca de viver eu em tam gram tristura
Deus, senhor, non'o mande!
  
25E queira El, senhor, que a mia vida,
pois per vós é, cedo sej'acabada,
ca pela morte me será partida
gram soidad[e] e vida mui coitada;
de razom é d'haver eu desejada
30a morte, pois entendo
de chorar sempre e andar sofrendo
coita desmesurada.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

Dirigindo-se à sua senhora, o trovador antecipa a dor e saudade que sentirá quando estiver longe dela.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 619, V 220
(C 619)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 619

Cancioneiro da Vaticana - V 220


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas