D. Dinis


Coitada viv', amigo, porque vos nom vejo,
e vós vivedes coitad'e com gram desejo
 de me veer e mi falar, e por en sejo
sempr'em coita tam forte
5que nom m'é senom morte,
come quem viv', amigo, em tam gram desejo.
  
Por vos veer, amigo, vivo tam coitada,
e vós por me veer, que oimais nom é nada
a vida que fazemos, e maravilhada
10sõo de como vivo,
sofrendo tam esquivo
 mal, ca mais mi valria de nom seer nada.
  
Por vos veer, amigo, nom sei quem sofresse
tal coita qual eu sofr'e vós, que nom morresse,
15e, com aquestas coitas, eu, que nom nacesse,
nom sei de mim que seja,
e da mort'hei enveja
a tod[o] home ou molher que já morresse.



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Nota geral:

A donzela expõe ao seu amigo uma mágoa que é comum a ambos: não se poderem ver. A vida que levam os dois parece-lhe de tal maneira sem sentido, que inveja todos os que já morreram.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amigo
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (v. 2 e 7 de cada estrofe)
desejo (I), nada (II), morresse (III)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 593, V 196

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 593

Cancioneiro da Vaticana - V 196


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas