Vasco Praga de Sandim


Muitos têm hoje por meu trobar
ca mi o nom faz nulha dona fazer;
e ben'o podem por assi teer!
Pero a dona que eu vi falar
5nunca melhor nem melhor semelhar
mi o faz a mi, per boa fé, fazer.
  
Pero Deus sabe - a que se rem negar
nom pode - que, macar mi o faz fazer,
que o nom sabe, nem ar há poder
10de o saber; nem sei hoj'eu osmar
que lh'eu podesse dizer o pesar,
macar eu muit'o quisesse fazer.
  
Ca mi soub'eu sempre mui bem guardar,
a Deus loado!, de m'homem fazer,
15nem a molher, a verdad'en saber;
e nunca m'en Deus leixe bem achar,
se m'ant'hoj'eu nom quisesse matar
que mais daquest'end'a ela fazer!
  
E vedes que me faz assi quitar
20de mais daquest'end'a ela fazer!:
porque o faço, posso-a veer,
e ena terra com ela morar;
e est'eu nom poderi'acabar
senom per esto que faç[o] fazer.



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Nota geral:

O trovador começa por afirmar que muitos pensam que as suas trovas não se dirigem a nenhuma dona em particular. Podem pensá-lo, mas estão muito enganados: é uma dona, que ele ouviu tão bem falar e cuja beleza viu, que o faz trovar. E no entanto, só Deus, que tudo sabe, tem conhecimento, que ela, sendo a razão dessas trovas, não o sabe nem o pode saber; nem ele se imagina a dar-lhe esse desgosto, por mais que o quisesse fazer. Porque sempre soube esconder a verdade de todos, homem ou mulher. E preferiria morrer a fazer qualquer coisa mais do que faz (as trovas) - pois assim pode vê-la à sua vontade e morar perto dela, o que só consegue agindo desta forma (discreta).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Dobre: (vv. 2 e 6 de cada estrofe)
fazer
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 88

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 88


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas