Vasco Praga de Sandim


Por Deus, que vos fez, mia senhor,
mui bem falar e parecer,
pois a mi nom pode valer
 rem contra vós, e que far[ei]?
5Que eu conselho nom me sei,
nem atendo de me leixar
esta coita, 'm que m'eu andar
vejo por vós, nunca saber.
  
E de tal coita, mia senhor,
10nom é sem guisa d'eu morrer.
Pero nunca mi a Deus perder
leix'ar per vós, per quem a hei,
se vos eu nunca mais amei
de quanto vos devia amar
15homem que vivess'em logar
em que vos podesse veer!
  
E se quiserdes, mia senhor,
algũa vez mentes meter
em qual vos Deus quis[o] fazer,
20já vos eu sempre gracirei;
ca ũa cousa vos direi:
bem poderedes log'osmar
 ca me nom fazedes levar
coita que eu possa sofrer.
  
25E mais vos quero, mia senhor,
de mia fazenda já dizer
- [e] vós devedes-mi a creer,
que nunca vos eu mentirei:
vedes, nunca vos poderei
30tam muit'em mia coita falar
que vos per rem possa mostrar
quam grave m'é de padecer.



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Nota geral:

O trovador fala à sua senhora da sua coita, face à qual nada lhe pode valer, e que o levará à morte. Não espera perdê-la jamais, e jura que que a ama a ela tanto quanto a deveria amar qualquer homem que vivesse perto dela e a pudesse ver. E pede-lhe para ter a gentileza de atentar na sua própria pessoa (ou seja, na sua beleza e qualidades): logo perceberá como o sofrimento que padece é insuportável. E termina garantindo que por mais que lhe fale desse sofrimento, jamais lhe poderá demonstrar quão duro ele é.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (v. 1 de cada estrofe)
mia senhor
Palavra perduda: v. 1 de cada estrofe
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 87

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 87


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas