D. Dinis


Senhor fremosa, vejo-vos queixar
porque vos am', e no meu coraçom
hei mui gram pesar, se Deus mi perdom,
porque vej'end'a vós haver pesar;
5e queria-m'en de grado quitar,
 mais nom posso forçar o coraçom,
  
que mi forçou meu saber e meu sem,
des i meteu-me no vosso poder;
e do pesar que vos eu vej'haver,
10par Deus, senhor, a mim pesa muit'en;
e partir-m'-ia de vos querer bem,
mais tolhe-m'end'o coraçom poder,
  
que me forçou de tal guisa, senhor,
que sem nem força nom hei já de mi;
15e do pesar que vós tomades i,
tom'eu pesar, que nom posso maior;
e queria nom vos haver amor,
mais o coraçom pode mais ca mi.



 ----- Aumentar letra ----- Diminuir letra

Nota geral:

O trovador vê a sua senhora formosa queixar-se do seu amor (que a incomoda). E se bem que o desconforto que lhe causa também lhe pese a ele, garante-lhe que nada pode fazer, já que "não pode forçar o coração". Um coração que se colocou inteiramente sob o seu domínio, e que, fazendo-o perder o controle sobre si mesmo, o impede de agir racionalmente. Decerto que, vendo o incómodo que lhe causa, ele gostaria de deixar de a amar, mas "o coração pode mais do que ele".
É, pois, o conflito entre o coração e a razão que D. Dinis expõe nesta que é uma das suas cantigas de amor mais artisticamente estruturadas (note-se como o dobre incide sobre três vocábulos que funcionam como uma espécie de resumo: coraçom, poder e mi).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (vv. 2 e 6 de cada estrofe)
coraçom (I), poder (II), mi (III)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 543, V 146

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 543

Cancioneiro da Vaticana - V 146


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas