Nota geral: Nesta cantiga, uma personagem (Cirola, decerto uma alcunha) queixa-se de não ter sido pago. Mas o seu objetivo, segundo Afonso X, é o de ser pago a dobrar. Na sequência da leitura de Rodrigues Lapa, todos os editores corrigiram a lição dos manuscritos no que toca ao nome da personagem, passando a ler Cítola. Tratar-se-ia, pois, de uma cantiga dirigida contra um jogral ganacioso e aldrabão. Mantendo esta mesma leitura, Vicenç Beltrán1 sugeriu que o que parecia ser uma jocosa e algo anódina "denúncia" do jogral Cítola se inseriria, de facto, no contexto de um dos conflitos políticos mais marcantes do reinado de Afonso X, a rebelião dos seus principais ricos-homens, ocorrida entre os anos 1271 e 1273, e que a crítica ao jogral seria, pois, um mero subterfúgio para a denúncia das queixas dos ricos-homens e do pouco fundamento das mesmas. Na verdade, os argumentos avançados pelos nobres rebeldes e a posição do monarca face a esses argumentos são, como comprovam os documentos referidos por Beltrán, absolutamente coincidentes com os que encontramos nesta cantiga. Cremos, pois, ser esta mais uma razão de peso para seguirmos Rios Milhám2 e mantermos o nome que consta nos manuscritos, decerto uma alcunha de um destes nobres (ou de alguém a eles ligado).
Referências 1 Beltran, Vicenç (2001), “El Rey Sábio y los nobles rebeldes”, in Atas do III Encontro Internacional de Estudos Medievais da ABREM, Rio de Janeiro, Ed. Ágora da Ilha, 33. Aceder à página Web
2 Ríos Milhám, José, Lírica trovadoresca em língua portuguesa. Exercícios ecdóticos (3) . Aceder à página Web
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