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  (linha 24)

Afonso X


Pero da Pont'há feito gram pecado      ←
de seus cantares que el foi furtar      ←
  a Cotom: que, quanto el lazerado      ←
houve gram tempo, el x'os quer lograr,      ←
5e doutros muitos que nom sei contar,      ←
por que hoj'anda vistido e honrado.      ←
  
 E por en foi Cotom mal dia nado      ←
pois Pero da Ponte herda seu trobar;      ←
e mui mais lhi valera que trobado      ←
10nunca houvess'el, assi Deus m'ampar,      ←
pois que se, de quant'el foi lazerar,      ←
serve Dom Pedro e nom lhi dá en grado.      ←
  
 E com dereito seer enforcado      ←
deve Dom Pedro, porque foi filhar      ←
15a Cotom, pois lo houve soterrado,      ←
seus cantares, e nom quis en[de] dar      ←
um soldo pera sa alma quitar      ←
sequer do que lhi havia emprestado.      ←
  
E por end'é gram traedor provado,      ←
20de que se já nunca pode salvar,      ←
come quem a seu amigo jurado,      ←
bevendo com el[e], o foi matar      ←
- todo polos cantares del levar,      ←
 com os quaes hoj'anda arrufado.      ←
  
25E pois nom há quen’o por en retar      ←
queira, seerá oimais por mim retado.      ←



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Nota geral:

Em plena disputa trovadoresca, Afonso X censura ironicamente Pero da Ponte por se aproveitar dos cantares de Afonso Eanes do Cotom, enriquecendo assim à custa do trabalho alheio. Pero da Ponte, diz o rei, teria mesmo morto o seu amigo à traição, apenas para lhe roubar as cantigas.
Tratar-se-á, ao que tudo indica, de uma acusação jocosa, própria do ambiente trovadoresco da corte afonsina, partindo certamente de um contexto concreto que nos escapa. Nesta medida, e tendo em conta a continuada repetição do verbo lazerar (sofrer) ao longo desta composição, poderemos eventualmente pôr como hipótese o rei estar aqui a aludir jocosamente à única cantiga de amor de Cotom (pelo menos, a única que nos chegou), A gram dereito lazerei, pondo ironicamente em causa a sua autoria (ou seja, entendendo este primeiro verso à letra - que tanto lhe teria custado a fazer). E isto ao mesmo tempo que brinca com a morte de amor, tão apregoada pelos trovadores, e também com a questão do pagamento dessa atividade trovadoresca, assunto exatamente em cima da mesa numa tenção entre Cotom e Pero da Ponte. Seja como for, e de forma mais imediata, o contexto da disputa entre os dois, a que o rei alude, relacionar-se-ia certamente também com o excesso de bebida, como parece depreender-se da última estrofe da composição.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 485, V 68

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 485

Cancioneiro da Vaticana - V 68


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas