Nota geral: Seguindo a ordem dos manuscritos, esta é a primeira de uma série de cantigas que Afonso X compôs a propósito do comportamento, por ele julgado infame, de alguns cavaleiros na conquista e defesa da Andaluzia, nomeadamente nas campanhas de 1272, destinadas a deter os novos ataques muçulmanos à fronteira cristã, e nas quais muitos dos principais ricos-homens do reino, então em conflito aberto com o monarca, se recusaram a participar. As acusações que Afonso X lhes faz neste conjunto de cantigas são quer as de faltarem ao chamamento, quer as de cobardia em pleno campo de batalha. No que respeita a esta cantiga em particular, a referência a um tal Pero Galinha parece indicar que o rei une aqui as duas acusações principais (traição e cobardia) Se excetuarmos talvez um grupo de cantigas do português Gil Peres Conde, esta versão de Afonso X parece não ter contestação no cancioneiro satírico (e é mesmo retomada por outros trovadores afonsinos, como Pero da Ponte ou Pero Gomes Barroso). No entanto, outra versão tinham muitos destes ricos-homens, que acusavam abertamente o rei de se esquivar aos pagamentos que lhes eram devidos e de se apropriar ilegalmente das suas terras. O contexto de todas estas composições é, pois, claramente político, e é nesse contexto, o de defesa das suas posições face aos nobres rebeldes, que devemos entender as acusações reais. A presente composição, na sua brevidade epigramática, assenta num jogo de palavras com nomes e apelidos, no qual o termo Galego ocupa um lugar central. A cantiga poderá dirigir-se, pois, em particular, a D. Pero Garcia Galego, personagem citado nos Livros de Linhagens (e de quem damos mais alguns dados biográficos nas notas). Também Pero de Espanha parece ser uma figura histórica concreto. É possível, no entanto, que o rei use igualmente de forma metafórica os seus apelidos, que permitem a generalização satírica ao conjunto da nobreza dos seus reinos.
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