Afonso X


Bem sabia eu, mia senhor,
que pois m'eu de vós partisse
que nunc' haveria sabor
de rem, pois vos eu nom visse,
5porque vós sodes a melhor
dona de que nunca oísse
homem falar;
ca o vosso bom semelhar
sei que par
10nunca lh'homem pod'achar.
  
E pois que o Deus assi quis,
que eu som tam alongado
de vós, mui bem seede fiz
que nunca eu sem cuidado
15en viverei, ca já Paris
d'amor nom foi tam coitado
[e] nem Tristam;
nunca sofrerom tal afã,
nen'[o] ham
20quantos som, nem seeram.
  
Que farei eu, pois que nom vir
o mui bom parecer vosso?
Ca o mal que vos foi ferir
aquel é [meu] x'est o vosso;
25e por ende per rem partir
de vos muit'amar nom posso;
nen'[o] farei,
ante bem sei ca morrerei,
se nom hei
30vós que [já] sempr'am[ar]ei.



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Nota geral:

Esta é a primeira das três únicas cantigas de amor de Afonso X que os Cancioneiros profanos nos transmitiram. Lamentando afastar-se da sua senhora, de quem faz o elogio, o trovador garante-lhe a constância do seu amor e o contínuo sofrimento em que viverá (um sofrimento maior que o de Páris ou o de Tristão, dois célebres protagonistas de novelas de cavalaria), Acrescenta ainda que sentirá como seu qualquer mal da sua amada, uma referência algo obscura (não só pelo facto do verbo estar no passado, o mal que vos foi ferir, mas também pela utilização do verbo ferir, geralmente usado num sentido de agressão física).
Segundo Paolo Canettieri e Carlo Pulsoni1, é possível que a composição seja um contrafactum musical de uma cantiga de Raimbaut de Vaqueiras, D´una dona.m tueill e.m lais.

Referências

1 Canettieri, Paolo e Pulsoni, Carlo (1995), "Contrafacta galego-portoghesi", in Medioevo e Literatura. Actas del V Congreso de la Asociación Hispánica de Literatura Medieval, vol. I, Granada, Universidad de Granada.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 468bis

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 468bis


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas