Garcia Peres, Afonso X


- Ũa pregunta quer'a 'l-rei fazer,
 que se sol bem e aposto vistir:
porque foi el pena veira trager
 velha 'm bom pan'? E queremos riir
5eu e Gonçalo Martins, que é
 home muit'aposto, per bõa fé,
e ar querê-lo-emos en cousir.
  
- Garcia Pérez, vós bem cousecer
 podedes: nunca, de pram, foi falir
10em querer eu pena veira trager
velha em corte, nen'a sol cobrir;
pero, de tanto, bem a salvarei:
nunca me dela em corte paguei,
mais estas guerras nos fazem bulir.
  
15- Senhor, mui bem me vos fostes salvar
de pena veira que trager vos vi;
e pois de vós a queredes deitar,
se me creverdes, faredes assi:
 mandade log'est'e nom haja i al:
 20deita[de-a] log'em um muradal,
ca peior pena nunca desta vi.
  
- Garcia Pérez, nom sabedes dar
bom conselho, per quanto vos,
pois que me vós conselhades deitar
 25em tal logar esta pena; ca 'ssi,
[se] o fezesse, faria mui mal;
e muito tenh'ora que mui mais val
em dá-la eu a um coteif'aqui.



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Nota geral:

Risonha disputa entre Garcia Peres e Afonso X, a propósito do vestuário deste último: Garcia Peres estranha que o rei, que se prezava de vestir bem, traga uma velha pele muito gasta e aconselha-o a deitá-la para o lixo. D. Afonso, justificando a vestimenta pelo cenário de guerra em que se encontra, refuta o conselho e propõe-se dá-la de imediato a um cavaleiro vilão. Não custa a crer que a tenção tivesse sido seguida, de facto, dessa jocosa oferta.



Nota geral


Descrição

Tenção
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: (v. 3 de cada estrofe)
pena veira trager (I e II), deitar (III e IV)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 465

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 465


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas