Nota geral: Este ataque direto ao Papa terá como pano de fundo algum dos vários conflitos surgidos entre a Coroa e o Papado, a propósito da nomeação de bispos e arcebispos. Acusando essencialmente o Papa de roubo, Afonso X parece situar-se claramente na linha de muitos soberanos peninsulares que, a braços com a chamada guerra de Reconquista cristã, aceitavam mal os tributos exigidos pela Santa Sé, a qual, em troca, interferia demasiado, a seu ver, em assuntos que consideravam de mera política interna. Quanto ao conflito concreto na origem da cantiga, sugeriu Carolina Michaelis, e, na sua sequência, a generalidade dos investigadores, que a questão teria a ver com a designação do novo arcebispo de Santiago de Compostela, após a morte de D. João Airas em 1266. O problema arrastou-se durante vários anos, e o bispo de Coimbra, D. Egas Fafes, nomeado para o cargo por Clemente IV, acabou por morrer em Montpellier, em 1268, sem nunca chegar efetivamente a tomar posse. Em 1273, o papa Gregório X retomou o caso, nomeando para o arcebispado D. Gonçalo Gómez, o qual foi rejeitado novamente pelo rei (e pelos burgueses de Santiago), sendo obrigado a exilar-se (e regressando apenas por volta de 1280, no momento da sublevação do infante herdeiro D. Sancho). Uma vez que as relações de Afonso X com a Igreja parece terem sido relativamente pacíficas na primeira parte do seu reinado, tudo indica, pois, que a cantiga datará da época da nomeação de D. Gonçalo, que coincide, aliás, com um dos momentos críticos do reinado do Rei Sábio, a rebelião dos ricos-homens castelhano-leoneses (1272-1274).
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