Nota geral: Composição de caráter muito particular, esta única cantiga de D. Garcia Mendes d´Eixo que nos chegou não fará exatamente parte da tradição galego-portuguesa, uma vez que está escrita no que parece ser ou provençal ou um dos seus dialetos (eventualmente gascão, como justificamos brevemente na nota antroponímica). Até por este motivo, a sua edição não é fácil. A juntar a esta dificuldade, os numerosos erros que são detetáveis no manuscrito (palavras-rima que não rimam, versos trocados, estrofes incompletas, por exemplo), tornam a sua reconstituição extremamente problemática em muitos passos. De qualquer forma, e mesmo através destas dificuldades, parece claro que D. Garcia Mendes d´Eixo, da ilustre família dos Sousa, faz aqui o elogio da sua terra natal, paraíso de verdura e de frescura na memória de quem está longe e a ela se dispõe a voltar. Também por esta temática, e pelo claro tom emotivo e biográfico que a atravessa, a composição se distingue do conjunto de composições que os cancioneiros nos transmitiram, sendo mesmo difícil classificá-la num género bem definido. A cantiga vem acompanhada de uma rubrica explicativa, infelizmente também assaz obscura e de difícil edição, onde a única informação certa é a sua dedicatória a um Rui d´Espanha. De qualquer forma, ela datará provavelmente do final do exílio de cinco anos que D. Garcia Mendes passou no reino de Leão (em parte certamente na Toronha, região galega do Baixo-Minho, onde casou, e que é referida na cantiga), e será anterior a 1217, ano do seu regresso a Portugal. Trata-se, pois, também, de uma das mais antigas composições dos cancioneiros. Quanto ao seu sentido específico, que parece incluir uma dimensão política, damos, nas notas, algumas sugestões. Face aos óbvios problemas de edição que a composição levanta, linguísticos, mas também contextuais, optámos por intervir o menos possível na versão que nos é transmitida pelo Cancioneiro da Biblioteca Nacional (e apenas por ele). Mantivémos, assim, mesmo as formas que parecem afastar-se um pouco do provençal – mas, para além de não sabermos com segurança se seria mesmo em occitânico canónico que a cantiga teria sido escrita, não sabemos igualmente qual seria a competência linguística do trovador numa língua que não era a sua. Sem pensarmos que se trata de uma peça bilingue, como, por vezes, tem sido sugerido, também não parece impossível que a interferência da língua de origem do seu autor, o galego-português, tivesse conduzido a certas formas híbridas. Mantivemos igualmente a disposição que têm os versos no manuscrito, entendendo tratar-se de versos de sete sílabas (ainda que os versos agudos pareçam ter oito). Quanto à irregularidade estrófica, a ela se fará referência nas notas, onde se justificarão as leituras em que nos fixámos, mas que não podem deixar de ser, em muitos passos, meramente hipotéticas.
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