Bonifaci Calvo


Mui gram poder há sobre mim Amor,
pois que me faz amar de coraçom
a rem do mundo que me faz maior
coita sofrer; e por tod'esto nom
5ouso pensar sol de me queixar en,
atam gram pavor hei que mui gram bem
me lhe fezesse, por meu mal, querer.
  
E nom mi há prol este pavor haver,
pois cada dia mi a faz mui melhor
10querer, por mal de mim e por fazer-
-me prender mort'em cab': e pois sabor
há de mia morte, rogar-lh'-ei que nom
mi a tarde muito, ca gram sazom
há que a quis e desejei por en.
  
15Pois já entendo que guisada tem
Amor mia mort'e nom pode seer
que me nom mate, sei eu ũa rem:
que me val mais log'i morte prender
que viver coitad'em mui gram pavor,
20ca nom haverei, pois eu morto for,
tal coita qual hei no meu coraçom.
  
E quem soubesse como me vai, nom
terria que eu sõo de bom sem
em me leixar viver, ca sem razom
25me dá tal coit'Amor, que me convém
a viver trist'e sem tod'o prazer,
e me convém tal afã a sofrer,
que maior nom fezo Nostro Senhor.



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Nota geral:

O trovador não ousa queixar-se dos sofrimentos que o Amor lhe inflinge, mas pensa que, já que o vai matar, mais lhe valeria morrer depressa.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
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Fontes manuscritas

A 265, B 449
(C 449)

Cancioneiro da Ajuda - A 265

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 449


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas