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  (linha 20)

Paio Gomes Charinho


De quantas cousas eno mundo som      ←
 nom vej'eu bem qual pod'en semelhar      ←
a 'l-rei de Castela e de Leon      ←
se[nom] ũa qual vos direi: o mar.      ←
5O mar semelha muit'aqueste rei;      ←
e daqui em deante vos direi      ←
em quaes cousas, segundo razom.      ←
  
O mar dá muit', e creede que nom      ←
se pod'o mundo sem el governar,      ←
10e pode muit', e [há] tal coraçom      ←
que o nom pode rem apoderar.      ←
Des i ar [é] temudo, que nom sei      ←
quen'o nom tema; e contar-vos-ei      ←
ainda mais, e julga[de]-m'entom.      ←
  
15Eno mar cabe quant'i quer caber;      ←
e mantém muitos; e outros i há      ←
que x'ar quebranta e que faz morrer      ←
enxerdados; e outros a que dá      ←
grandes herdades e muit'outro bem.      ←
 20E tod'esto que vos conto avém      ←
a 'l-rei, se o souberdes conhocer.      ←
  
E da mansedume vos quero dizer      ←
do mar: nom há cont', e nunca será      ←
 bravo nem sanhudo, se lh'o fazer      ←
25outro nom fezer; e sofrer-vos-á      ←
tôdalas cousas; mais se em desdém      ←
o per ventura algum louco tem,      ←
com gram tormenta o fará morrer.      ←
  
 [E] estas manhas, segundo meu sem,      ←
30que o mar há, há el-rei; e por en      ←
se semelham, quen'o bem entender.      ←



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Nota geral:

Cantiga relativamente heterodoxa, e por isso mesmo difícil de enquadrar num dos três géneros canónicos da poesia galego-portuguesa, e na qual Paio Gomes Charinho nos traça o retrato do rei, a partir de uma comparação com o mar. O rei em causa será provavelmente Sancho IV de Castela, de quem Charrinho foi almirante-mor, cargo que deixou de desempenhar por volta de 1287 (como, aliás, refere em duas das suas cantigas de amigo). Se o mar ocupa, pois, um lugar particular na obra do trovador (vide também uma das suas cantigas de amor), note-se que esta composição utiliza o tema de forma mais indireta e subtil: na verdade, a comparação entre o rei e o mar que desenvolve, se salienta aspetos positivos do mar (o poder, a generosidade), inclui igualmente muitos aspetos negativos (a crueldade, a força bruta). Também o final da cantiga, apelando para aqueles que a possam bem entender (v. 31), parece reforçar o caráter voluntariamente ambíguo da composição, projetando-a para o terreno da crítica e da sátira.
Deve acrescentar-se, no entanto, que uma comparação muito semelhante já está presente nas Partidas de Afonso X (II, Título IX, lei XXVIII - Que semejança pusieron los Antiguos a la Casa del Rey). Se, neste caso, se trata da comparação entre o mar e a Corte, e não especificamente com a pessoa do rei, a similitude dos termos em que ambas são feitas não pode deixar de ser realçada.



Nota geral


Descrição

Género incerto
Mestria
Cobras doblas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 256

Cancioneiro da Ajuda - A 256


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas