Paio Gomes Charinho


Quantos hoj'andam eno mar aqui
coidam que coita no mundo nom há
senom do mar, nem ham outro mal já.
 Mais doutra guisa contece hoje a mi:
5       coita d'amor me faz escaecer
       a mui gram coita do mar e tẽer
  
pola maior coita de quantas som,
coita d'amor, a quen'a Deus quer dar.
E é gram coita de mort'a do mar
10- mas nom é tal; e por esta razom
       coita d'amor me faz escaecer
       a mui gram coita do mar e tẽer
  
pola maior coita, per boa fé,
de quantas forom, nem som, nem serám.
15E estes outros que amor nom ham
dizem que nom, mas eu direi qual é:
       coita d'amor me faz escaecer
       a mui gram coita d'amor e tẽer
  
por maior coita a que faz perder
20coita do mar, que faz muitos morrer.



 ----- Diminuir letra

Nota geral:

A comparação entre o que se sofre no mar e o que se sofre no amor é o tema central desta original cantiga.
Se todos dizem que não há maior sofrimento do que aquele por que passam os que andam no mar, o trovador garante que consigo lhe acontece algo diferente: o sofrimento de amor faz-lhe esquecer as agruras do mar e faz-lhe considerar que, para aqueles que o experimentaram, não há pior sofrimento do que o do amor.
Note-se que os deíticos hoje e aqui, utilizados logo em abertura, não só nos colocam de imediato em pleno ambiente marítimo, como parecem indicar que a cantiga teria sido composta durante os anos em que Paio Gomes Charinho foi almirante-mor de Castela e Leão (o que introduz na cantiga uma nota pessoal também muito original).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
Ateúda atá finda
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 251

Cancioneiro da Ajuda - A 251


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas