Toponímia referida na cantiga:
  (linha 16)

João Garcia de Guilhade


Cuidou-s'Amor que logo me faria      ←
 per sa coita o sem que hei perder;      ←
e pero nunca o pôdo fazer,      ←
mais aprendeu outra sabedoria:      ←
5quer-me matar mui cedo por alguém,      ←
e aquesto pod'el fazer mui bem,      ←
ca mia senhor esto quer todavia.      ←
  
E tem-s'Amor que demandei folia      ←
em demandar o que nom poss'haver;      ←
10e aquesto nom poss'eu escolher,      ←
ca logo m'eu en[d'] al escolheria:      ←
escolheria, mentr'houvesse sem,      ←
de nunca já morrer por nulha rem;      ←
 ca esta morte nom é jograria.      ←
  
 15Ai! que de coita levei em Faria!      ←
E vim aqui a Segóbia morrer!      ←
 Ca nom vej'i quem soía veer      ←
meu pouc'e pouc'e per esso guaria.      ←
Mais pois que já nom posso guarecer,      ←
20a por que moiro vos quero dizer:      ←
 d'i d'alguém éste filha: de Maria.      ←
  
E o que sempre neguei em trobar,      ←
ora o dix'! E pês a quem pesar,      ←
pois que alguém acabou sa perfia.      ←



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Nota geral:

Cantiga que se desenvolve em duas partes relativamente distintas. Na primeira (as duas estrofes iniciais), o trovador fala das suas difíceis relações com o Amor (personificado): se o Amor, embora o tentasse, nunca conseguiu fazer com que perdesse a razão, tenta agora matá-lo, o que poderá conseguir, visto a sua senhora assim o desejar. E se o Amor considera uma loucura pedir o que nunca pode ter, o trovador argumenta que não tem escolha - se tivesse nunca se disporia a morrer, até porque uma tal morte não é brincadeira.
Na segunda parte da cantiga (3ª estrofe e finda), este tom geral dá lugar a dados bem mais concretos e até mesmo biograficamente exatos. Deixou a sua senhora em Faria (vila muito próxima da sua terra natal, o lugar de Guilhade, e igualmente referida numa outra cantiga), e encontra-se agora longe de Portugal, em Segóvia, morrendo por não a ver, pelo menos um pouco, como dantes. E, dizendo-se desesperado, inicia um jogo com a sua identidade, revelando enfim quem ela é - é filha de Maria. Embora o verso onde essa revelação é feita (v. 21) não seja hoje inteiramente claro para nós (como se explica melhor na nota respetiva), tratar-se-á, agora sim, de uma brincadeira, aqui em torno do tradicional segredo sobre a identidade da amada.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 238

Cancioneiro da Ajuda - A 238


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas