João Garcia de Guilhade


U m'eu parti d'u m'eu parti,
log'eu parti aquestes meus
olhos de veer e, par Deus,
quanto bem havia perdi,
5ca meu bem tod'era 'm veer;
e mais vos ar quero dizer:
pero vejo, nunca ar vi.
  
Ca nom vej'eu, pero vej'eu:
quanto vej'eu nom mi val rem,
10ca perdi o lume por en,
porque nom vej'a quem me deu
esta coita que hoj'eu hei,
que jamais nunca veerei,
se nom vir o parecer seu.
  
15Ca já ceguei, quando ceguei;
de pram ceguei eu log'entom,
e já Deus nunca me perdom,
se bem vejo, nem se bem hei;
pero, se me Deus ajudar
20e me cedo quiser tornar
u eu bem vi, bem veerei.



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Nota geral:

Composição de grande virtuosismo técnico, assente, como mostra o dobre, nos verbos partir, ver e cegar. Quando o trovador partiu para longe da sua senhora, os seus olhos deixaram de ver (o) bem, pois perderam toda a luz e ficaram cegos (a tudo o resto). Ele acredita, no entanto, como afirma no final da cantiga, que, se em breve regressar, voltará a ver (o) bem.
Acrescente-se, já agora, que encontramos uma razom semelhante (embora com um desenvolvimento diferente) numa cantiga de João Airas de Santiago. E ainda que Guilhade pareça ser mais velho, a incerteza sobre a cronologia exata dos dois trovadores não nos permite, no entanto, estabelecer uma relação direta entre as duas composições.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (v. 1 e 2 de cada estrofe)
eu parti (i), vej'eu (II), ceguei (III);
(v. 7, e em II, vv. 6 e 7)
formas do verbo veer
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 231, B 421, V 33

Cancioneiro da Ajuda - A 231

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 421

Cancioneiro da Vaticana - V 33


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas