Expressão pesquisada:


João Garcia de Guilhade


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Amigos, nom poss'eu negar      ←
a gram coita que d'amor hei,      ←
 ca me vejo sandeu andar,      ←
e com sandece o direi:      ←
5       os olhos verdes que eu vi      ←
       me fazem ora andar assi.      ←
  
Pero quem quer x'entenderá      ←
aquestes olhos quaes som,      ←
e dest'alguém se queixará;      ←
10mais eu, já quer moira quer nom:      ←
       os olhos verdes que eu vi      ←
       me fazem ora andar assi.      ←
  
Pero nom devia a perder      ←
home que já o sem nom há      ←
15de com sandece rem dizer,      ←
e com sandece dig'eu já:      ←
       os olhos verdes que eu vi      ←
       me fazem ora andar assi.      ←



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Nota geral:

Conhecida cantiga de João Garcia de Guilhade, por nela o trovador cantar uns olhos verdes (os da sua dama), um tema que conhecerá, ao longo dos séculos seguintes, inúmeras variações.
Note-se, no entanto, que os olhos verdes são aqui muito nitidamente associados ao segredo sobre a identidade da amada: é por estar louco (de amor) que ele se atreve a revelar um traço físico que a caracteriza, o qual, pela sua raridade, pode levar à sua identificação - como refere na 2ª estrofe, onde alude ainda às mais do que certas queixas da possuidora de tais olhos. Como única justificação, ele acrescenta, na 3ª estrofe, que os loucos (como ele) não devem ser responsabilizados pelos seus atos.
Há um outro dado, no entanto, muito curioso, e de assinalável originalidade: numa cantiga de amigo do trovador, ouvimos a voz feminina a confirmar ter, efetivamente, olhos verdes. É este um dos elementos do notável "teatro de vozes" que João Garcia de Guilhade desenvolve em muitas das suas cantigas (em sucessivos diálogos entre a voz masculina das cantigas de amor e a voz feminina das cantigas de amigo, vozes que funcionam quase como heterónimos do seu autor), e que faz de Guilhade um dos mais notáveis poetas não só da Lírica Galego-Portuguesa, mas da poesia em Português.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 229, B 419, V 30

Cancioneiro da Ajuda - A 229

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 419

Cancioneiro da Vaticana - V 30


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas