Afonso Sanches


Mia senhor, quem me vos guarda
guard'a mim - e faz pecado -
d'haver bem, e nem dá guarda
como faz desaguisado;
 5mais o que vos dá por guarda
em tam bom dia foi nado,
se dos seus olhos bem guarda
 o vosso cós bem talhado.
  
Se foss'eu o que vos leva
 10levar-m'-ia em bom dia,
 ca nom fari'a mal leva
doutra; e mais vos diria:
pois que vós levades leva
das outras em melhoria
15por en som eu o que leva
por vós coitas noit'e dia.
  
 Mia senhor, quem m'hoje manda
 a vós, m'anda fiz, sem falha,
porque vós por mia demanda
20nunca destes ũa palha;
mais [d]aquele que vos manda
sei tanto, se Deus me valha:
que, pero convosco, m'anda
por vós pouc'ou nemigalha.



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Nota geral:

Requintado brinquedo linguístico, provavelmente dirigido à mesma dama de uma cantiga anterior e no mesmo tom jocoso. A cantiga está muito deturpada nos códices, o que torna a sua reconstituição algo difícil. Percebe-se, no entanto, que cada estrofe joga com a repetição de uma mesma palavra, utilizada nos seus diversos sentidos. A reconstituição proposta, e explicada nas notas, parte deste pressuposto.



Nota geral


Descrição

Género incerto
Mestria
Cobras singulares
Dobre: duplo (v. 1, 3, 5, 7 de cada estrofe):
guarda (I), leva (II), manda (III)
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Fontes manuscritas

B 413, V 24

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 413

Cancioneiro da Vaticana - V 24


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas