Fernão Gonçalves de Seabra


 Gram coita sofr'e vou-a negando,
ca nom quis Deus que coita sofresse
que eu ousasse, mentre vivesse,
nunca dizer; e por aquist'ando
5       maravilhado de como vivo
       em tam gram coita com'hoj'eu vivo!
  
[E] esta coita, de que eu jasço
cuidando sempre, des que me deito,
 pois me levo, sol nom é en preito
10que cuid'em al; e por en me faço
       maravilhado de como vivo
       em tam gram coita com'hoj'eu vivo!
  
Bem sei que home sol nom m'entende
qual coita sofr', e como coitado
15eu viv'hoje, nem est home nado
que o soubesse, que nom foss'ende
       maravilhado de como vivo
       em tam gram coita com'hoj'eu vivo!
  
E non'o ouso dizer, cativo!
20De mais desejo mia mort'e vivo!



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Nota geral:

Sofrendo uma dor profunda mas que não ousa confessar, o trovador espanta-se com o facto de conseguir ainda sobreviver. Essa dor escondida ocupa o seu pensamento a todo o momento, incluindo as noites que passa sem dormir. Não há ninguém que entenda o seu estado, mas, se houvesse, decerto esse alguém admirar-se-ia também por ele não ter morrido ainda, o que é o seu maior desejo.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 210

Cancioneiro da Ajuda - A 210


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas