Rodrigo Anes de Vasconcelos


Preguntei ũa don[a] em como vos direi:
- Senhor, filhastes ordem? E já por en chorei!
Ela entom me disse: - Eu nom vos negarei
de com'eu filhei ordem, assi Deus me perdom!
5Fez-mi-a filhar mia madre, mais o que lhe farei?
Trager-lh'-[e]i eu os panos, mais nom [no] coraçom!
  
Dix'eu: - Senhor fremosa, morrerei com pesar,
pois vós filhastes ordem e vos ham de guardar.
Ela entom me disse: - Quero-vos en mostrar
10como serei guardada, se nom, venha-me mal!
Esto, por que chorades, bem devedes cuidar:
tragerei eu [os panos, mais no coraçom al]!
  
E dix'eu: - Senhor minha, tam gram pesar hei en,
porque filhastes ordem, que morrerei por en.
15E disse-m'ela logo: - Assi me venha bem,
como serei guardada dizer-vo-lo quer'eu:
se eu trouxer os panos, nom dedes por en rem,
ca terrei o contrairo eno coraçom meu.



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Nota geral:

Cantiga de notável realismo, que aborda um problema que seria comum na Idade Média - a reclusão forçada de uma donzela num convento. No diálogo que constitui a cantiga, sobressai esta voz de mulher, a quem a consciência da injustiça e da violência a que é sujeita faz reafirmar a sua rebeldia (particularmente contra uma mãe bem diferente da madre amiga e confidente das cantigas de amigo).
Se esta veemente denúncia nos leva a classificar a cantiga como de escárnio e maldizer, note-se que a voz masculina se mantém próxima do registo tradicional de uma cantiga de amor.



Nota geral


Descrição

Escárnio e Maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 368bis

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 368bis


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas