João Lopes de Ulhoa


Nostro Senhor! que nom fui guardado
d'eu em tal tempo com'este viver!
Que o que soíam por bem teer
ora o têm por desguisado!
5Que este mund'é já tornad'em al,
que todo prez têm ora por mal!
A que mal tempo eu som achegado!
  
Que mal fui eu desaventurado
que em tal tempo fui [gram] bem querer
10atal dona, de que nom poss'haver
bem e por que ando mui coitado!
E as gentes, que me veem andar
assi coitado, vam en posfaçar
e dizem: "Muit'anda namorado."
  
15De mim ham já muito posfaçado
porque sabem ca lhe quero gram bem,
- que me deviam a preçar por en,
e por en som mais pouco preçado;
e viv'em coita, nunca maior vi,
20e mia senhor nom me quer valer i,
e assi fiquei desamparado.
  
E esta coita tem-me chegado
a mort'e nom guarrei per nium sem,
pois mia senhor nom quer por mi dar rem,
25de que eu sempre andei enganado.
E moir'! E pois preto da mort'estou,
muito me praz, que enfadado vou
deste mundo que é mal parado.



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Nota geral:

Cantiga de amor com traços de sirventês moral, uma vez que os sentimentos do trovador pela sua senhora são aqui enquadrados por considerações sobre o estado do mundo. É num mundo de valores trocados e onde o amor e a honra já nada valem, que ele infelizmente vive, um mundo onde os seus males de amor, em vez de serem respeitados, são recebidos com sorrisos e troça. De modo que a sua morte próxima muito lhe agrada, já que partirá enfadado deste mundo cão.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas (rima b dobla, rima c singular)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 206, B 357

Cancioneiro da Ajuda - A 206

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 357


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas