João Soares Coelho


Deus, que mi hoj'aguisou de vos veer
e que é da mia coita sabedor,
El sab'hoje que com mui gram pavor
 vos dig'eu est'e já hei de dizer:
5       moir'eu, e moiro por alguém!
       E nunca vos mais direi en.
  
E mentr'eu vi que podia viver
na mui gram coita 'm que vivo d'amor,
nom vos dizer rem tive per melhor;
10mais dig'esto, pois me vejo morrer:
       moir'eu, e moiro por alguém!
       E nunca vos mais direi en.
  
E nom há no mundo filha de rei
a que d'atanto devess'a pesar,
15nem estraĩdade d'hom'a filhar,
por quant'éste que vos ora direi:
       moir eu, e moiro por alguém!
       E nunca vos mais direi en.



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Nota geral:

Já que Deus lhe deu a oportunidade de estar com a sua senhora, o trovador aproveita para lhe confessar que está prestes a morrer de amor. Mas fá-lo de forma cautelosa e sem lhe revelar explicitamente quem é a causadora das suas penas.
Na terceira estrofe, João Soares faz uma referência sibilina à filha de um rei. Se o sentido literal dos versos onde ela surge é o de argumentar que nem uma infanta real poderia ficar incomodada com uma confissão tão cautelosa, tendo em conta que o principal palco dos trovadores era exatamente a corte real (as cortes reais), dificilmente seria esta uma referência inocente. É difícil, no entanto, situá-la concretamente.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras doblas
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 175, B 326

Cancioneiro da Ajuda - A 175

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 326


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas