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  (linha 12)

João Soares Coelho


Com'hoj'eu vivo no mundo coitado!      ←
 Nas graves coitas que hei de sofrer,      ←
nom poderia outr'home viver;      ←
nem eu fezera, temp'há i passado;      ←
5mais quando cuid'em qual mia senhor vi,      ←
em tanto viv'e em tanto vivi,      ←
e tenho m'en das coitas por pagado.      ←
  
Empero quand'eu, eno meu cuidado,      ←
cuido nas coitas que me faz haver,      ←
10cuido mia mort'e querria morrer      ←
e cuid'em como fui mal dia nado;      ←
mais quand'ar cuid'em qual mia senhor vi,      ←
de quantas coitas por ela sofri,      ←
muito m'en tenho por aventurado.      ←
  
15E em seu bem per mi seer loado      ←
nom há mester d'eu ende mais dizer,      ←
 ca Deus la fez[o] qual melhor fazer      ←
soub'eno mund'; e bem maravilhado      ←
será, quem vir a senhor que eu vi,      ←
20pelo seu bem; e bem dirá per mi      ←
que bem dev'end'a Deus a dar bom grado      ←
  
de quantas coitas por ela sofri,      ←
- se Deus mi a mostre como a já vi      ←
seendo com sa madre em um estrado!      ←



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Nota geral:

Pensando no mal que sofre pela sua senhora, o trovador crê que nenhum outro homem o poderia suportar, e nem mesmo ele, tempos atrás. Mas quando pensa nela, tal como a viu no primeiro momento, e pensa na vida que tem levado, dá o seu sofrimento por bem empregado. Esta mesma dualidade reaparece na 2ª estrofe: por um lado, um sofrimento que o faz desejar a morte, por outro a imagem da sua senhora, uma imagem que tudo apaga e o faz mesmo considerar-se feliz. Na 3ª estrofe, o trovador faz o seu (tradicional) elogio, concluindo que todos os que a conhecerem acharão que ele deve agradecer a Deus os males que sofre por tal senhora.
Para os dois últimos versos da finda, onde expressa o desejo de a poder ver, deixa o trovador a maior originalidade da cantiga (e um dos finais mais originais de todas as cantigas de amor que nos chegaram): o quadro familiar e muito concreto em que a imagina, sentada com sua mãe num estrado (como dizemos na nota ao último verso, nas casas nobres medievais, sobretudo as ibéricas, as damas sentavam-se habitualmente num estrado, uma superfície que se elevava um pouco do chão, sobre almofadas).



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (v. 5 de cada estrofe)
vi
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 170, B 321

Cancioneiro da Ajuda - A 170

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 321


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas