João Soares Coelho


  Nunca coitas de tantas guisas vi
como me fazedes, senhor, sofrer;
e nom vos queredes de mim doer!
E, vel por Deus, doede-vos de mi!
 5       Ca, senhor, moir'e vedes que mi avém:
       se vos alguém mal quer, quero-lh'eu mal,
       e quero mal quantos vos querem bem.
  
E os meus olhos, com que vos eu vi,
mal quer', e Deus que me vos fez veer,
10e a morte que me leixa viver,
e mal o mundo, porquant'i naci.
       Ca, senhor, moir'e vedes que mi avém:
       se vos alguem mal quer, quero-lh'eu mal,
       e quero mal quantos vos querem bem.
  
15A mia ventura quer'eu mui gram mal
e quero mal ao meu coraçom,
e tod'aquesto, senhor, coitas som;
e quero mal Deus porque me nom val.
       Ca, senhor, moir'e vedes que mi avém:
20       se vos alguém mal quer, quero-lh'eu mal,
       e quero mal quantos vos querem bem.
  
E tenho que faço dereit'e sem
em querer mal quem vos quer mal e bem.



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Nota geral:

Pedindo piedade à sua senhora, o trovador diz-lhe o que lhe sucede: tanto quer mal aos que lhe querem mal, como aos que lhe querem bem. Na 2ª estrofe, alarga esse querer mal aos seus olhos (que a foram ver), a Deus (que o permitiu), à morte (porque o deixa viver) e ao mundo (porque nele nasceu). E ainda, na 3ª estrofe, à sua sorte, ao seu coração e novamente a Deus (porque não lhe acode). Tudo o faz sofrer.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras doblas
Palavra(s)-rima: (v. 1 de cada estrofe)
vi
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 165, B 317bis

Cancioneiro da Ajuda - A 165

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 317bis


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas