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  (linha 17)

João Soares Coelho


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Em grave dia, senhor, que vos vi,      ←
por mi e por quantos me querem bem!      ←
 E por Deus, senhor, que vos nom pês en!      ←
E direi-vos quanto per vós perdi:      ←
5perdi o mund'e perdi-me com Deus,      ←
e perdi-me com estes olhos meus,      ←
e meus amigos perdem, senhor, mim.      ←
  
E, mia senhor, mal dia eu naci      ←
por tod'este mal que me por vós vem!      ←
  10Ca per vós perdi tod'est'e o sem      ←
e quisera morrer e nom morri;      ←
 ca me nom quiso Deus leixar morrer      ←
por me fazer maior coita sofrer,      ←
por muito mal que me lh'eu mereci.      ←
  
15Ena mia coita, pero vos pesar      ←
seja, senhor, já quê vos falarei,      ←
 ca nom sei se me vos ar veerei:      ←
tanto me vej'em mui gram coit'andar      ←
que morrerei por vós, u nom jaz al.      ←
20Catade, senhor, nom vos éste mal,      ←
ca polo meu nom vos venh'eu rogar.      ←
  
E ar quero-vos ora conselhar,      ←
per bõa fé, o melhor que eu sei      ←
- metede mentes no que vos direi:      ←
25quem me vos assi vir desamparar      ←
e morrer por vós, pois eu morto for,      ←
tam bem vos dirá por mi "traedor"      ←
come a mim por vós, se vos matar.      ←
  
 E de tal preço guarde-vos vós Deus,      ←
30senhor e lume destes olhos meus,      ←
se vos vós en nom quiserdes guardar!      ←



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Nota geral:

Cantiga de amor que desenvolve, de forma ágil e criativa, alguns dos temas obrigatórios do género. Começando por lamentar o dia em que conheceu a sua senhora, o trovador, depois de lhe pedir desculpa por tal afirmação, justifica-a, dizendo-lhe o que perdeu por ela: perdeu o mundo (ou seja, a vida social), entrou em conflito com Deus e consigo próprio (através dos seus olhos, que a viram), os amigos perderam-no a ele, perdeu a razão e só quer morrer, desfecho que, infelizmente, Deus não lhe concede, para o fazer sofrer ainda mais e assim expiar os seus pecados.
Na 3ª estrofe, o trovador, mesmo sabendo que isso incomoda a sua senhora, quer-lhe falar um pouco (já quê) deste sofrimento, porque não sabe se a voltará a ver (o que significa que este é um discurso que pressupõe que ele está na sua presença): repete então que morre e que ela deve atentar a isso, pelo seu próprio interesse e não pelo dele. E na 4ª estrofe explica: se ele morrer por ela, ela ficará mal vista - porque (sendo ele seu vassalo, subentende-se), todos a considerarão traidora (por não lhe acorrer). E conclui, na finda, pedindo a Deus que a proteja de tal fama, se ela não se quiser proteger.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas (rima c singular)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 158

Cancioneiro da Ajuda - A 158


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas