Fernão Rodrigues de Calheiros


Nom vos façam creer, senhor,
que eu alhur quero viver,
 senom convosc', e já poder.
Nom vos ment'i, ca, de pram, é
5[j]á poder; e, per bõa fé,
       macar m'end'eu quisesse al, nom
       querria o meu coraçom;
  
nen'os meus olhos, mia senhor,
nen'o vosso bom parecer
10que me vos farám bem querer,
 mentr'eu viver, u al nom há.
E, senhor, mais vos direi já:
       macar m'end'eu quisesse al, nom
       querria o meu coraçom!
  
15Des quando vos eu vi, senhor,
Deus lo sabe, nunca cuidei
em me partir de vós, nem hei
sabor senom de vos servir;
e jamais, por vos nom mentir,
20       macar m'end'eu quisesse al, nom
       querria o meu coraçom!
  
E per bõa fé, mia senhor,
mui gram verdade vos direi:
sempre vos eu já servirei,
25mentr'eu viver, e querrei bem.
E senhor, mais vos direi en:
       macar m'end'eu quisesse al, nom
       querria o meu coraçom!



 ----- Aumentar letra

Nota geral:

Dirigindo-se à sua senhora, o trovador pede-lhe para não acreditar nos que lhe dizem que ele quer viver longe dela, e mesmo que pode. Porque, sendo preciso ter poder para o fazer, mesmo que quisesse, o seu coração não o deixaria. Nem os seus olhos, que o obrigaram a amá-la desde que a viu. Garante-lhe, pois, que nunca tal ideia lhe ocorreu, e que o único gosto que tem na vida é servi-la.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras doblas (rima a uníssona, rima c singular)
Palavra(s)-rima: (v. 1 de cada estrofe)
senhor/mia senhor
Palavra perduda: v. 1 de cada estrofe
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 51
(C 51)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 51


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas