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  (linha 18)

Rui Gomes, o Freire


Pois eu d'atal ventura, mia senhor,      ←
contra vós sõo que nom hei poder      ←
de falar convosc', e vós entender      ←
nom queredes que vos quer'eu melhor      ←
5de quantas cousas [e]no mundo som,      ←
senhor fremosa, mui de coraçom      ←
me prazeria morrer; e pois hei,      ←
sem vosso bem, que sempre desejei      ←
des que vos vi, em tal coit'a viver,      ←
  
10em qual eu vivo por vós, que maior      ←
sabor havedes de me nom fazer      ←
bem, mia senhor, e de me mal querer?      ←
Ca se vos eu hoesse desamor,      ←
mia senhor fremosa, que vos eu nom      ←
15haverei nunca nẽũa sazom,      ←
e quant'eu mais viver, tant'haverei      ←
maior amor de vos servir, ca sei      ←
que já por al nom hei coit'a perder,      ←
  
senom por vós, mia senhor, se nembrar      ←
20vos quiserdes de mim, que outra rem      ←
nom sei no mundo querer tam gram bem      ←
com'a vós quer'; e par Deus, se me dar      ←
quiser mia morte, que m'hei mui mester,      ←
pois me de vós, mia senhor, dar nom quer       ←
25bem, a que Deus tam muito de bem deu      ←
- nom por meu bem, mia senhor, mais por meu       ←
mal, pois por vós tanto [de] mal me vem      ←
  
quant'eu nom hei já poder d'endurar,      ←
mia senhor fremosa, per nẽum sem,       ←
30se vosso desamor, que m'ora tem      ←
forçado, nom fezerdes obridar;      ←
 ca mentr'eu vosso desamor hoer,      ←
com'hoj'eu hei, m[ia senh]or [e] tever      ←
vosco tam mal mia fazenda, com'eu      ←
35tenho convosco, nom [me será] greu      ←
de morrer, e prazer-mi-á mais en      ←
  
 ca de viver, pois i a vós fezer      ←
prazer e mim de gram coita poder      ←
guardar; e vós nembrar-vos-á bem lheu      ←
40assi de mim, como se sol do seu      ←
homem nembrar, depois sa mort', alguém.      ←



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Nota geral:

O trovador diz à sua senhora que, pois não consegue falar com ela, nem ela quer entender como ele a ama acima de todas as coisas, preferiria morrer. E pergunta-lhe: que prazer tem ela em o fazer sofrer, querendo-lhe mal? Ainda se ele não gostasse dela... Mas tal nunca acontecerá, pois, enquanto viver, cada vez a servirá melhor, mesmo não deixando de sofrer. Um sofrimento que só ela pode impedir, se acaso se quiser lembrar dele, ou então Deus, se lhe der a morte. Uma morte que lhe daria prazer, na sua triste situação presente, mas que lhe daria também prazer sabendo que lhe agradaria a ela. E termina dizendo que, depois de morto, ela depressa se iria lembrar dele, como um senhor se lembra de um seu vassalo morto.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas
Ateúda atá finda
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 49
(C 49)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 49


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas