Fernão Garcia Esgaravunha


Tod'home que Deus faz morar
u est a molher que gram bem
quer, bem sei eu ca nunca tem
gram coita no seu coraçom,
5pero se a pode veer;
mais quem end'há lonj'a viver
aquesta coita nom há par!
  
Ca, pois u ela est' estar
pode, nom sabe nulha rem
10de gram coita, ca, de pram, tem
assi eno seu coraçom:
qual bem lhi quer de lho dizer;
e nom pode gram coita haver
enquant'en'aquesto cuidar.
  
15E quem bem quiser preguntar
por gram coita, mim pregunt'en,
ca eu a sei, vedes per quem:
per mim e per meu coraçom.
E mia senhor mi a faz saber
20e o seu mui bom parecer
e Deus, que m'en fez alongar
  
por viver sempr'em gram pesar
de mim, e por perder o sem
com haver a viver sem quem
25sei eu bem no meu coraçom.
Ca nunca já posso prazer,
u a nom vir, de rem prender.
Vedes que coita d'endurar!
  
E o que atal nom sofrer
30non'o devedes a creer
de gram coita, se i falar!



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Nota geral:

O trovador considera que aquele que pode viver perto da sua senhora, e com a possibilidade de a ver, tem o seu sofrimento mitigado, pois distrai-se continuamente a pensar no modo de lhe confessar o seu amor. Pelo contrário, os que vivem longe, como é o seu caso, sofrem uma dor mortal. Só eles sabem, pois, o que é sofrer verdadeiramente.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (v. 4 de cada estrofe)
coraçom
Dobre: (v. 3 de cada estrofe)
tem (I, II), quem (III, IV)
Palavra perduda: v. 4 de cada estrofe
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 229

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 229


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas