João Nunes Camanês


Nom me queredes, mia senhor,
fazer bem enquant'eu viver;
e, pois eu por vós morto for,
nom mi o poderedes fazer:
5       ca nom vi eu quem fezesse
       nunca bem, se nom podesse.
  
 Podedes-vos nembrar bem lheu
de mim, que sofro muito mal
por vós; e digo-vo-l'ant'eu,
 10que pois me nom faredes al:
       ca nom vi eu quem fezesse
       nunca bem, se nom podesse.
  
Podedes-vos nembrar de mim
depois mia mort'e sem al rem;
 15e se eu faça bõa fim,
nom me faredes outro bem:
       ca nom vi eu quem fezesse
       nunca bem, se nom podesse.
  
Fazede-mi, e gracir-vo-l'-ei,
20bem, mentr'ando vivo; ca nom
mi o faredes, eu bem o sei,
pois eu morrer, por tal razom:
       ca nom vi eu quem fezesse
       nunca bem, se nom podesse.



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Nota geral:

Se a sua senhora se dispõe a não lhe conceder os seus favores enquanto viver, o trovador diz-lhe que também não será depois de morto que ela lhos poderá conceder (porque ninguém faz um bem que é impossível). O mais que ela então poderá fazer será lembrar-se dele. Na estrofe final ele pede-lhe, pois, que lhe faça bem enquanto está vivo.
O modo como João Nunes desenvolve o convencional tema da morte de amor não deixa de ser aqui discreta mas claramente irónico.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Refrão
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 112, B 225

Cancioneiro da Ajuda - A 112

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 225


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Ca nom vi eu quem fezesse nunca bem, se nom pudesse  

Versão de Frederico de Freitas