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Pero Garcia Burgalês


Que alongad'eu ando d'u iria,      ←
se eu houvesse aguisado d'ir i,      ←
que viss'a dona que veer querria,      ←
(que nom visse! ca por meu mal a vi!)      ←
5de que m'eu mui sem meu grado parti      ←
e mui coitad'; e foi-s'ela sa via      ←
e fiquei eu, que mal dia naci!      ←
  
E que preto que mi a mim d'ir seria      ←
u ela é, pero long'é daqui,      ←
10se soubesse que veer poderia      ←
ela, que eu por meu mal dia vi!      ←
Ca dê'lo dia em que a conhoci,      ←
sempre lhe quige melhor todavia      ←
e nunca dela nẽum bem prendi.      ←
  
15Nom lh'ousei sol dizer como morria      ←
por ela, nem lho diz outre por mi;      ←
e com mia morte já me prazeria,      ←
pois nom vej'ela que por meu mal vi;      ←
 ca mais val morte ca viver assi      ←
20com'hoj'eu vivo; e Deus, que mi a podia      ←
dar, nom mi a dá, nem al que lh'eu pedi.      ←
  
E por qualquer destas me quitaria      ←
de mui gram coita que sofr'e sofri      ←
por ela, que eu vi por meu mal dia,      ←
25mais fremosa de quantas donas vi.      ←
 Direi-a já, ca já ensandeci:      ←
Joana est ou Sancha, ou Maria      ←
a por que eu moiro e por que perdi      ←
  
 o sem; e mais vos end'ora diria:      ←
30Joam Cõelho sabe que é 'si!      ←



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Nota geral:

Primeira de uma série de quatro cantigas onde o trovador faz um jogo com a identidade da senhora amada, a partir de três nomes femininos (Joana, Sancha e Maria). Nesta primeira cantiga, este jogo só surge na estrofe final (e na finda, onde lemos igualmente uma críptica referência ao trovador João Soares Coelho). Podendo o sentido destas referências ser jocoso, o certo é que as três estrofes iniciais da composição se desenvolvem segundo o modelo ortodoxo da cantiga de amor (o trovador está longe da sua senhora, que conheceu para seu mal, mas a distância seria curta se ele soubesse que a poderia ver; e é porque se sente morrer e já está louco que no final cita os três nomes). Nas três outras cantigas do ciclo este registo tópico da cantiga de amor é muito mais ténue, motivo pelo qual as teremos de considerar de género incerto.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras uníssonas
Palavra(s)-rima: (v. 4 de cada estrofe)
vi
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 89, B 193

Cancioneiro da Ajuda - A 89

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 193


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas