Pero Garcia Burgalês


Ai eu coitad'! e por que vi
a dona que por meu mal vi?
Ca, Deus lo sabe, poila vi,
nunca jamais prazer ar vi,
5per boa fé, u a nom vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam boa dona nunca vi,
  
tam comprida de todo bem,
per bõa fé, esto sei bem;
10se Nostro Senhor me dê bem
dela, que eu quero gram bem,
per bõa fé, nom por meu bem!
Ca, pero que lh'eu quero bem,
nom sabe ca lhe quero bem,
  
15ca lho nego pola veer;
pero non'a posso veer!
Mais Deus que mi a fezo veer,
rog'eu que mi a faça veer;
e se mi a nom fezer veer,
20sei bem que nom posso veer
prazer nunca sen'a veer.
  
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non'o sabe per mim
a que eu vi por mal de mim,
  
25nem outre já, mentr'eu o sem
houver; mais se perder o sem,
direi-o com míngua de sem;
  
ca vedes que ouço dizer:
que míngua de sem faz dizer
30a home o que nom quer dizer!



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Nota geral:

O trovador, infeliz, pergunta-se por que quis a sorte que visse a dona que viu, a melhor de todas, pois desde esse momento nunca mais teve qualquer prazer quando a não vê. E pede a Deus que ela lhe conceda os seus favores, embora acrescente que ela nada sabe do seu amor, pois, para a ver, ele esconde os seus sentimentos. Esconde-os a ela e a todos, e escondê-los-á sempre, salvo se perder a razão. Nesse caso, não responderá por si, até porque, como diz o provérbio, um homem louco não sabe o que diz.
A cantiga destaca-se pela sua composição muito elaborada, baseada nos dobres repetidos em posição de rima.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras singulares
Dobre: (vv. de cada estrofe e findas)
vi (I), bem (II), veer (III), mim (finda I), sem (finda II), dizer (finda III)
Findas (3)
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 87, B 191

Cancioneiro da Ajuda - A 87

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 191


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas