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Pero Garcia Burgalês


Cuidava-m'eu que amigos havia      ←
muitos no mundo, mais, mao pecado!,       ←
nom hei amigos, ca, pois tam coitado       ←
 jaço morrend', alguém se doeria      ←
5de mim - que moir'e nom ouso dizer      ←
o de que moir'a quem me faz morrer;      ←
nom lho dig'eu, nem por mim home nado.      ←
  
E os amigos em que m'atrevia,      ←
de que me tenh'em al por ajudado,      ←
10nom lho dizem; mais se tam acordado      ←
foss'algum deles, bem mi ajudaria      ←
se lho dissesse e nunca i perder      ←
 podia rem e poderia haver      ←
mi, per esto, tolheito d'um cuidado.      ←
  
 15Mais aquest'é cousa mui desguisada,      ←
ca nom sei eu quem tal poder houvesse,       ←
pois mia senhor visse, que lhe soubesse       ←
dizer qual coita, pois la vi, mi há dada;      ←
ca, pois que viss'o seu bom parecer,      ←
20haver-lh'-ia log'eu d'escaecer      ←
e dizer x'ante por si, se podesse!      ←
  
E bem cuid', aquant'é meu conhocer,      ←
que pois fosse u a podesse veer      ←
que rem do meu nem do seu nom dissesse.      ←



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Nota geral:

Incapaz de confessar o seu amor à sua senhora, o trovador começa por lamentar não ter amigos - pois, se tivesse, algum deles teria dó do terrível sofrimento em que anda e poderia eventualmente falar por ele, ajudando-o e nada perdendo com isso. Mas os amigos, que muitas vezes já o ajudaram, nada dizem à sua senhora. Na terceira estrofe, no entanto, o trovador considera esta sua ideia disparatada - e isto porque supõe agora que, se qualquer um deles se mostrasse disponível, quando chegasse perante a sua senhora e visse a sua beleza, logo esqueceria o seu caso, e, apaixonado, falaria antes por ele, se pudesse. Sendo que, como conclui na finda, o mais certo seria esse tal amigo ficar também mudo, nada dizendo sobre si ou sobre ele próprio.
É de salientar o modo como a composição acompanha os avanços e recuos do discurso interior do apaixonado, até chegar a uma conclusão contrária ao seu ponto de partida (os seus amigos de nada lhe valeriam).
A cantiga que se segue nos manuscritos aborda um tema semelhante.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Amor
Mestria
Cobras doblas (rima c uníssona)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

A 84, B 188bis

Cancioneiro da Ajuda - A 84

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 188bis


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas