Nota geral: Composição tardia transcrita pelos apógrafos italianos no final das cantigas de amigo de D. Dinis, e que parece ter sido inserida em época posterior num espaço em branco do manuscrito que esses apógrafos seguiam (de resto, tal como a cantiga seguinte, de Afonso XI de Castela). Embora até meados do século XX a composição tenha sido incluída na obra de D. Dinis, em 1967 Giuseppe Tavani1 apresentou argumentos sólidos no sentido de demonstrar o seu caráter espúrio e tardio, argumentos genericamente aceites por todos os editores posteriores. De facto, a forma estranha como aparece transcrita em B (e que levou Colocci a atribuir um número independente à primeira estrofe), juntamente com o não menos estranho vocativo Senhora que aí a precede, são, entre outros, elementos que parecem comprovar que as dificuldades de linguagem do próprio texto (de resto já repetidamente assinaladas pelos editores anteriores, como Nobiling, que formula mesmo dúvidas sobre a sua autoria2, ou como Lapa3, que, no entanto, a continua a atribuir a D. Dinis), essas dificuldades de linguagem, como dizíamos, parecem derivar exatamente do seu caráter tardio e da sua considerável distância em relação à obra do seu suposto autor, D. Dinis. Acrescente-se que, nem por isso, a composição deixa de ser, não só a mais extensa e consistente, mas igualmente a mais interessante de todas as composições espúrias transcritas pelos apógrafos italianos. Acrescente-se ainda que, à sua maneira, ela não deixa de apresentar bastantes semelhanças temáticas com uma cantiga de amor de João Airas de Santiago.
Referências 1 Tavani, Giuseppe (1988), “Sobre a atribuição a D. Dinis e a Juião Bolseiro de duas canções tardias”, Ensaios Portugueses, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p. 317-349.
2 Nobiling, Oskar (2010), "Acerca da interpretação do Cancioneiro de D. Dinis" (1903), in As cantigas de D. Joan Garcia de Guilhade e estudos dispersos, ed. organizada por Yara Frateschi Vieira, Niterói, Editora da Universidade Federal Fluminense.
3 Lapa, Manuel Rodrigues (1982), "Uma cantiga de D. Dinis", in Miscelânea de Língua e Literatura Portuguesa Medieval (1ª ed., Rio de Janeiro, 1965), Coimbra, Coimbra Editora.
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