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Pedro Amigo de Sevilha


Quem mi ora quisesse cruzar,      ←
bem assi poderia ir,      ←
bem como foi a Ultramar      ←
Pero d'Ambrõa Deus servir:      ←
5morar tanto quant'el morou      ←
na melhor rua que achou      ←
e dizer: - Venho d'Ultramar.      ←
  
E tal vila foi el buscar,      ←
de que nunca quiso sair,      ←
 10atá que pôde bem osmar      ←
que podia ir e viir      ←
outr'homem de Ierusalém;      ←
e poss'eu ir, se andar bem,      ←
 u el foi tod'aquest'osmar.      ←
  
15E poss'em Mompirler morar,      ←
bem com'el fez, por nos mentir;      ←
e ante que cheg'ao mar,      ←
 tornar-me posso, e departir,      ←
com'el depart', em como Deus      ←
20prês mort'em poder dos judeus,      ←
e enas tormentas do mar.      ←
  
E se m'eu quiser enganar      ←
Deus, ben'o poss'aqui comprir      ←
 em Burgos; ca, se preguntar      ←
25por novas, ben'as posso oír      ←
tam bem come el em Mompirler,      ←
e dizê-las pois a quem quer      ←
que me por novas preguntar.      ←
  
E pois end'as novas souber,      ←
30tam bem poss'eu, se mi quiser,      ←
come um gram palmeiro chufar.      ←



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Nota geral:

Cantiga que troça da alegada peregrinação de Pero d´Ambroa à Terra Santa, motivo que deu origem a um pequeno ciclo de composições da autoria de vários trovadores e jograis do círculo de Afonso X, e que o próprio Pedro Amigo, aliás, retoma numa outra cantiga. Neste caso, a composição é, por uma vez, direta e não equívoca (seria a primeira do ciclo?). E tem a curiosidade de nos indicar claramente que foi composta em Burgos.
Sendo certo que, na época, as denúncias de falsos peregrinos e falsas peregrinações não eram raras, todo este ciclo de em torno da falhada peregrinação do jogral ultrapassará, na verdade, o seu caso individual, sendo antes uma forma indireta de aludir a acontecimentos mais politicamente orientados, relacionados com as vicissitudes a que estiveram sujeitas algumas cruzadas à Terra Santa. Neste sentido, Carlos Alvar1 pensa que o ciclo terá como contexto aquela que será a sétima cruzada, decidida pelo Concílio de Lyon em 1245, na sequência da tomada de Jerusalém pelos muçulmanos, no ano anterior (concílio que, curiosamente, foi o mesmo onde foi decidida a deposição de D. Sancho II). Apoiada pelo papa e por Luís IX de França, nela interveio um destacamento ibérico, comandado pelo mestre de Santiago, D. Paio Peres Correia (que tinha estado presente no concílio de Lyon), e que recebeu o beneplácito de Fernando III em 1246, mas se fez ao mar apenas em 1248 (do porto de Aigues Mortes, próximo de Montpellier).
Muito recentemente (2014), Joaquim Ventura, num detalhado artigo2, analisa esta problemática, e, ligando Pero de Ambroa às também muito satirizadas "peregrinações" da famosa Maria Balteira, conclui que nenhum deles terá saído de Toledo, substituindo a viagem real pela compra, por parte da Balteira, das respetivas indulgências (pagando a um outro para ir em seu lugar), prática possível na época (e seria exatamente este facto a desencadear todo o ciclo satírico).
Acrescente-se que, no que toca aos jocosos ataques de Pedro Amigo, eles não ficaram sem resposta, já Pero de Ambroa lhe responde diretamente numa composição, assegurando ter feito efetivamente a viagem.

Referências

1 Alvar, Carlos (1988), “La cruzada de Jaén y la poesia gallego-portuguesa”, Actas del I Congreso de Asociación Hispánica de Literatura Medieval: Santiago de Compostela, 1985, Ed.Vicenç Beltrán, Barcelona: PUP.

2 Ventura, Joaquim (2014), "A trindade de Pedro Garcia de Ambroa", Revista de Cancioneros, Impresos y Manuscritos, nº 3.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras uníssonas (rima c singular)
Dobre: (vv. 3 e 7 de cada estrofe)
Ultramar (I), osmar (II), mar (III), preguntar (IV)
Finda
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1661, V 1195

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1661

Cancioneiro da Vaticana - V 1195


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas