Pedro Amigo de Sevilha


Elvir', a capa velha dest'aqui,
que te vendess'um judeu corretor,
e ficou contig'outra mui peior,
Elvir', a capa velha, que t'eu vi;
5ca, queres sempre por dinheiros dar
a melhor capa e queres leixar
a capa velha, Elvira, pera ti.
  
Por que te fiqu', assi Deus ti perdom,
a capa velh', Elvira, que trager
10nom quer nulh'home mais, dás a vender
melhor capa velha doutra sazom.
Elvira, nunc'a ti capa darám,
ca ficas, destas capas que ti dam,
com as mais usadas no cabeçom.
  
15E a capa, velh'Elvira, mi pesou,
porque nom é já pera cas d'el-rei
a capa velh', Elvira, que eu sei
muit'usa[da] que contigo ficou:
ca pera corte sei que nom val rem
20a capa, velh'Elvira, que já tem
pouco cabelo, tam muito s'usou.



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Nota geral:

Brinquedo linguístico dirigido à soldadeira Elvira, que parte de um cerrado jogo verbal entre as expressões capa velha e velha Elvira. Para além do equívoco entre a velhice da capa (peça de vestuário) e da soldadeira, é possível que haja ainda um jogo com um segundo sentido obsceno que o termo capa teria. Esse jogo é percetível numa outra cantiga satírica que utiliza ambiguamente o termo, sem que, no entanto, consigamos explicar a sua significação exata.
Procurámos pontuar a composição a partir de um primeiro sentido "inocente", sem deixar de ter em conta que outras pausas são possíveis e que o jogo entre elas seria predominantemente oral. Seria curioso saber como seria cantada a composição.



Nota geral


Descrição

Cantiga de Escárnio e maldizer
Mestria
Cobras singulares
(Saber mais)


Fontes manuscritas

B 1658, V 1192
(C 1658)

Cancioneiro da Biblioteca Nacional - B 1658

Cancioneiro da Vaticana - V 1192


Versões musicais

Originais

Desconhecidas

Contrafactum

Desconhecidas

Composição/Recriação moderna

Desconhecidas